quarta-feira, 20 de junho de 2012

June - One (2009)


Quando o assunto é dub techno, "One" é um dos meus EPs favoritos. June é um desses artistas obscuros, praticamente desconhecidos, que desaparecem tão logo surgem em cena, ou que realizam uma atuação tão discreta e recolhida que facilmente passam despercebidos.

A maneira pela qual eu o conheci deve-se puramente ao acaso. Foi em minhas andanças pelo MySpace, alguns anos atrás, quando este ainda parecia um espaço de interesse. Não me recordo exatamente como nem por quê, o fato é que, estando à deriva, acabei atracando em sua página e fiquei impressionado com o que ouvi: um techno taciturno, porém deveras elegante. 

"One", lançado em 2009 pela Moodgadget, é o único dentre seus releases que consegui baixar. E não foi nada fácil consegui-lo; lembro-me de exaustivas buscas pelo Google afora. Não é por menos. NDiscogs, o EP sequer está registrado entre os lançamentos da Moodgadget. Além disso, "June" é um codinome genérico e profuso demais, que, justamente por isso, dá margem a equívocos (como esse, por exemplo). Basta digitar "June" na busca do Discogs, e dezenas de artistas, bandas e projetos serão listados. Qual deles o June que nos concerne?

Enfim, vamos ao que interessa. 

O que esse EP, de apenas quatro faixas, possui de tão especial? Difícil responder. Não nego o fato de que minhas preferências estejam fundadas muito mais frequentemente em critérios subjetivos do que em fatores objetivos. Só posso dizer que "One" apresenta composições de uma simplicidade admirável, que desconhecem soluções espetaculares, porque só aceitam alterações gradativas. June opera numa paleta de cores bem restrita. Seus acordes são como os tons acinzentados da capa, gradações entre o preto e o branco: alternam-se em sequências quase monocromáticas, que soariam tediosas se não fosse pela minuciosa "melodia de timbres" que ele soube estabelecer. 

Em "Languor", a primeira faixa, batidas pulsantes se fundem ao baixo numa camada profunda, que respira langorosa porém decididamente, mesmo quando entrecortada por linhas percussivas mais ágeis ou pelos sons metálicos que reverberam e ecoam em cadências não raro estranhas ao andamento da música. Em "Caliginous", quiçá a melhor realização do conjunto, em menos de 40 segundos estamos diante de todos os elementos que, digamos assim, dão o "tema" da composição, e o que vem a seguir é mais ou menos previsível. Contudo, o ouvinte sensível saberá perceber certas sutilezas, diminutos acontecimentos que se dão nas regiões mais discretas da paisagem, fazendo de cada audição uma experiência única ("one").

Em suma, o que tanto surpreende nesse EP é o nervosismo contido, o minimalismo austero, a não-exuberância. Uma sonoridade caliginosa que, no entanto, jamais se transforma em expressão estereotipada ou grotesca. June sabe equilibrar obstinação com sensatez; seu aspecto é sombrio, mas apenas vagamente. Ouvi-lo será uma experiência tão monótona e melancólica quanto plena de possíveis pequenas descobertas, e, portanto, de alguma forma reconfortante.



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